quarta-feira, 11 de outubro de 2023

MODERNIDADE



Encontrei com o Caixa Preta lá no Porcão, discutia com Galak, isso é a coisa mais comum por aqui, trocavam gentilezas dirigidos às mães, emocionante ver essa demonstração de civilidade entre os dois, duas figuras tão finas e educadas, fiquei com os olhos cheios de lágrimas. 
Sentamos na nossa mesa preferida, próxima da porta para ficar de olho no ambiente e evitar a catinga que vinha da cozinha.
O velho Caixa estava no seu momento filosófico, foi logo soltando essa pérola sobre o pessoal que vem pra tomar conta do mundo: 
Depois de uma semana árdua de trabalho, de 6 horas com 2 de almoço, digitando em teclados ergonômicos, projetando maçanetas menos estressantes para o mundo moderno, traduzindo poemas húngaros, ou atualizando blogs, reúnem-se com amigos, igualmente estressados em bares modernos.
Discutem problemas modernos. Para os quais têm todas as soluções,são iluminados, gente que faltava para o mundo melhorar, pena que chegaram tarde,.
Ao fim da noite assistem a um sarau nas ruínas de uma antiga fábrica ou em um terreno baldio, performance de algum grande diretor revolucionário desconhecido, incompreendido e perseguido pela sociedade conservadora pró direita.





Chega em casa, liga a TV, coloca no canal alemão, embora não saiba sequer o presente do infinitivo do verbo Sein. 
Dorme com camiseta de Che Guevara ,comprada de um turco numa viagem a Madrid  e meias pucket, uma de cada cor, acorda de madrugada, toma água aromatizada, come meio polenguinho,  volta pra cama, mas não consegue dormir, indignado com a operação sobre vendas de joias, corrupção, marco temporal e com a crise orquestrada pela CIA.
Sofre a noite toda, acorda com olheiras, toma um toddynho, pensa em chamar o Uber, desiste, vai de bike. No caminho recebe a ligação da mãe. Chora e pede pra passar na casa dela depois do trabalho, pra comer peras e assistir juntos a nova novela.
Arre égua!!!

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