Faz algum tempo eu ficava rindo quando a minha tia respondia boa noite do Cid Moreira, hoje fico me esgoelando feito um doido: Alexia toca Chico Buarque, o tempo passa mas continua tudo na mesma, resolvi procurar o Caixa Preta.
Esperava ouvir do cabra, as novidades ou algum caso maluco, fui direto ao Porcão apesar do tempo frio.
Quando lembro das histórias contadas pelo meu amigo Caixa Preta, do nada tenho crise de risos. Quem me vê rindo sozinho pensa logo que eu estou pirando.
Mas não é nada disso, agora mesmo me lembrei de uma que o velho Caixa me contou entre os palavrões que carinhosamente trocava com o energúmeno do Galak, um troglodita em matéria de boas maneiras.
Segundo o velho Caixa, foi implacavelmente perseguido pelas ruas e avenidas do Guará por uma viatura da polícia.
Estava ele passeando tranquilamente de carro quando ouviu a sirene da polícia, não pensou duas vezes e fincou o pé no acelerador.
Durante a semana, estava fugindo do Caixa Preta para não ouvir aquelas histórias cretinas que ele sempre me conta, querendo que eu acredite a todo custo e não ria das maluquices.
De repente do nada surge o cabra, se eu fosse doente do coração tinha empacotado na hora, fazer o que? Lá fomos nós parar no Porcão, o quiosque mais sujo da cidade, nada de copo sujo, lá tudo é sujo, escorreguei na entrada, era a gordura acumulada por falta de uma boa coifa, quase desisto.
Com nossas cervas gelada, começamos o papo da semana por um assunto que já se arrasta a um bom tempo.
O mundo mesmo havendo na composição de sua população uma forte mistura de raças, não raro, acontecem manifestações imbeciloides de intolerância racial, que muitas vezes ocorre de forma sutil, passando muitas vezes despercebido por quem não é vítima.
O racismo muitas vezes se manifesta em forma de piadas de mau gosto, músicas, xingamentos, violência sem motivo lógico ou até mesmo evitando contato físico.
Muitas vezes nos calamos, muitas vezes fingimos, minimizamos e achamos que não passa de brincadeira, mas, na verdade, a coisa é muito séria, principalmente quando atinge nossas crianças ou filhos de pessoas queridas e conhecidas.
Aí é que nossa revolta ganha corpo e voz. Esse comportamento imbecil apenas é repetido por crianças que vê nos pais o espelho e repetem, pois ninguém nasce racista, aprende-se através de exemplos, palavras ou gestos de intolerância racial, religiosa ou mesmo de classes.
Isso, por mais que soe ou pareça natural para alguns, para muitos é uma afronta, pois tenta diminuir a importância do ser humano.
Nessa semana foi a vez de um jogador de futebol ser agredido com palavras de ódio e racismo durante uma partida de futebol.
Foi notícia em quase todos os noticiários do mundo, foi covarde e cruel, contra um cidadão que trabalhando, usando de suas habilidades para entreter aquele bando de cretinos dentro do estádio.
Em casa frente ao computador, vejo a notícia que uma anta tinha adotado uma capivara, estava chovendo apoio ao idiota que explorava o pobre animal nas redes sociais apenas para faturar, um verdadeiro show de imbecilidade, coisa que não falta na República de Bananas, dá nojo.
Chega de ler tanta coisa sem nexo, resolvi dar uma volta pela cidade, queria apenas relaxar, meus pés me guiaram direto ao Porcão.
No caminho para o Porcão me encontrei com o Caixa Preta estava pra lá de revoltado, isso para mim é um perigo, pois sou amigo e tenho a missão de amansar a fera.
O cabra, quase não se acalmava parecia o incrível Hulk, estava ficando meio esverdeado, olhei melhor e me pareceu mofo.
A revolta do velho Caixa tinha uma razão bem real, tinha que concordar com ele, pois o assunto é pra lá de polêmico, ninguém gosta de tocar no assunto.
Muita gente boa que diz amar a natureza, tentam se matar quando fazem uma queimada numa roça de capim, mas não movem uma palha para defender a REBIO- Reserva Biológica do Guará.
Parece que o assunto é um verdadeiro tabu, pois os interesses são os mais diversos e escusos.
Chegamos aos trancos e barrancos no mês de Maio, muitas promessas de comemorações por conta do aniversário do velho e amado Lobo, afinal são 54 anos no lombo.
Olhando em volta pouco teremos o que realmente comemorar, os preparativos para a comemoração estão a pleno vapor, espero que não transformem em um espetáculo circense degradante.
Muita gente confunde o símbolo do Guará que é um lobo, com uma hiena, isso as vezes dá até um nó na cabeça de muita gente.
Vou explicar porque, a hiena é um animal que come carniça, sempre aproveitando o resto de caça de outros animais, come fezes, faz sexo uma vez por ano,é feio pra cacete, vive rindo como se fosse retardado do reino animal, mas fica a pergunta: Ri de que?
Já o nosso símbolo o Lobo Guará,é outra coisa, parece com um cachorro, habita o cerrado a muito tempo, tem hábitos totalmente diferentes da hiena.
Mas de uns tempos pra cá passei a sentir que o peso da idade não trouxe a tranquilidade nem o desenvolvimento que o Guará merece.
Aqui no Guará está cada dia mais difícil andar em alguma calçada, pois a proliferação dos famigerados puxadinhos ainda é o que existe de mais danoso para a nossa já precária mobilidade urbana, tornando a vida dos pedestres um verdadeiro inferno na terra.
Mobilidade e acessibilidade aqui no Guará são apenas palavras de dicionário, acabaram com as calçadas, pobre de quem precisar utilizá-las principalmente se for cadeirante e tiver algum tipo de deficiência física, os idosos coitados nem se fala.
Fico até assustado com a quantidade de mensagens que recebo sobre esses malfeitos por aqui.
Os moradores já não aguentam mais tanto descaso, está na hora de dar um basta nessas aberrações que têm tirado o meu sono e o de muitos moradores da cidade, cada dia aparece uma novidade em matéria de desleixo com o nosso plano urbanístico, que sem uma fiscalização eficiente, muitas vezes com a benção da própria Administração, que empurra toda responsabilidade em cima de outros órgãos que também são omissos, situação que em nada ajuda o crescimento ordenado da cidade.
Estava aqui curtindo uma preguiça, sou surpreendido com a notícia da morte de Rita Lee, gostava do seu estilo meio debochado, com lágrimas nos olhos começo a cantarolar: Se Deus quiser um dia eu viro semente
E quando a chuva molhar o jardim, ah, eu fico contente
E na primavera vou brotar na terra
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol... quando de repente o telefone toca.
Era o meu amigo Caixa Preta, achei até bom ele ter telefonado, pois não aguento mais ver a turma do me engana que eu gosto, fazendo das tripas coração para tentar encobrir as mazelas que os chamados donos da cidade teimam em aprontar.
Agora depois de toda papagaiada durante as comemorações de aniversário do velho Lobo, onde uma multidão de puxas sacos de plantão deram um show de babação inesquecível, fizeram das tripas coração, a turma se esmerou, muitos só estavam pensando no aconchego na sombra da jaqueira e um lugar na mídia onde pudessem extravasar todo o puxa saquismo reprimido.
Uma horda de babacas e aproveitadores de ocasião correm pra visitar Anderson Torres, que está preso depois de utilizar o cargo que ocupava para aprontar contra o povo e o país, foi preso porque deixou a condição de homem público para se tornar um reles malfeitor, trocando em miúdos um bandido, como tantos que campeiam por esse país.
Por favor não queiram me fazer de trouxa, vindo dizer que é inconstitucional, que é perseguição e outras baboseiras que sempre ouvimos de alguns mentecaptos quando surge algo desse porte.
Um servidor público de carreira que mesmo tendo ocupado diversos cargos, praticou atos não condizentes com o cargo que ocupava.
Praticando atos que em respeito ao seu povo e país deviam ser abominado, mas não, mostrando o quanto está se importando com eles, dá-lhes uma bela banana demonstrando com isso não ser digno de ocupar qualquer cargo.
Aproveitando que o Caixa Preta estava conversando comigo no telefone, descendo a lenha no que anda acontecendo de errado no Guará, pedi pra ele me contar um caso maluco.
Diz ele que numa quadra perto da sua, mora uma jovem senhora com a filha, uma garota linda de uns 16 ou 17 anos, chama atenção a beleza da guria.
A garota andava meio adoentada, todos os dias vomitava, tinha tonturas e não andava se alimentando bem, parecia que a coisa era grave, levou-a então ao médico.
O médico examinou a moça, depois de vários exames, deu o diagnóstico: - Minha senhora, a sua filha está grávida, mais ou menos de três a quatro meses.
Assustada a mãe questionou o médico sem querer acreditar : Mas como doutor? Minha filha nunca esteve sozinha com um homem! Não é verdade, Jéssica Lane?
O aniversário do velho lobo já está me deixando meio cabreiro, pois a tendência de copiar tudo que não presta ainda resiste, continua firme, ainda não extirpada da alma de alguns.
De acordo com o que pensa o Caixa Preta, já que o GDF vai trazer Joelma para os festejos do aniversário de Brasília, o Guará pra não ficar atrás vai trazer: Ximbinha, Caneta Azul e Pablo Vittar.
Pensei, o inferno abriu uma filial por aqui ou a central mudou de mala e cuia pra cá, fiquei mais arrepiado do que gato quando vê água, pedi mais uma gelada.
Sentado lá no Porcão absorto em pensamentos, estava a lembrar as mudanças que por aqui aconteceram, enquanto eu envelhecia o contrário acontecia com o Guará, de uma vila que muitos maldosamente chamavam de Cidade Dormitório.
Hoje transformada nessa moderna cidade com seus prédios, casas, parques, descaso, desleixo e problemas que se avolumam.
Mas nem por isso menos amada por seus habitantes, novos ou velhos, o amor por esse pedaço de chão é uma coisa que me surpreende, o que não devia acontecer pois nada mais natural amar essa cidade, que apesar dos pesares é a nossa cidade.
Como costuma dizer o Caixa Preta, ninguém quer sair do Guará, os mais bairristas chegam a exagerar dizendo que a cidade é uma imitação do paraíso na terra, o velho Caixa tem evitado até ir ao Plano Piloto para não se afastar do seu amado Guará.
Dia 1º de Maio comemora-se em todo o mundo o Dia Internacional do Trabalhador, pois entende-se que trabalho é toda e qualquer atividade física ou intelectual que tenha resultados na vida de todos, portanto é indiferente o nome dado ao dia 1º de Maio que muitos chamam apenas Dia do Trabalho.
O nome por si só já engloba praticamente todos, pois desde tempos passados, trabalho era apenas executado por escravos ou mulheres, criando a ilusão que trabalhadores são os incansáveis donos do poder, ou seja, uma pequena parte que julgam-se trabalhadores.
Trabalho passou a ser apenas o que não estão muitos dispostos a fazerem, como trabalhos de copa, cozinha, pegar na enxada, minas de carvão, açudes, fazer estradas, limpar fossas, recolher lixo, dirigir caminhões e tantas outras atividades.