A chuva começava a cair, o calor ainda era sentido por nós, então partimos em direção ao nosso point favorito, o bom e imundo Porcão, que por sinal estava lotado.
Quase não conseguimos uma mesa pra sentar, jogar conversa fora, bebendo aquela cerveja gelada, ouvindo os resmungos de satisfação do Galak.
Lá na frente tocava um grupo de samba, que fazia sua costumeira apresentação, com todos os componentes do grupo pra lá de Bagdá, Exaltacana o grande motivo da lotação.
O Caixa Preta estava tentando me contar as novidades, aos gritos me falou sobre os diversos problemas que só acontecem aqui no Guará.
Sempre quando tocamos no assunto em conversas com amigos eles caem na risada, pois não acreditam ser possível tanta irregularidade sem que os responsáveis tomem qualquer providência.
Aqui no Guará está cada dia mais difícil andar pelas calçadas, pois a proliferação dos famigerados puxadinhos é o que existe de mais danoso para a nossa já precária mobilidade urbana, tornando a vida dos pedestres um verdadeiro inferno na terra.
Essas aberrações implantadas na cara de pau por aqui tem tirado o meu sono e o de muitos moradores da cidade.
Cada dia aparece uma novidade que sem uma fiscalização eficiente, quem sabe talvez até as vezes tenham a benção da própria Administração, essa que volta e meia faz vistas grossas com alguns casos que aparecem, fica sempre empurrando toda responsabilidade pra cima do DF - Legal, talvez com isso tentando esconder a sua real incapacidade de lidar com casos que aumentam a cada dia.
Com aquela catinga de gordura velha, tentando respirar, estava eu e o Caixa Preta lá no Porcão, sentados esperando a boa vontade do Galak em nos trazer a nossa cerveja, sempre acompanhado dos doces coices e resmungos.
Tentando entender aquela audiência pública lá na administração, que mais me pareceu um stand up de muito mal gosto, onde as piadas não tinham nenhuma graça, dava vontade de chorar com tanta falação e nenhuma resolução.
A turma do me engana que eu gosto estava afiada,faziam das tripas coração para tentar encobrir as mazelas que volta e meia teimam em aprontar, principalmente quando se trata de coisa pública,pareciam um bando de Pitbull’s adestrados.
Pobre da população do Guará que cada dia mais sofre com o ataque predatório constante desses aprendizes de feiticeiros, que tentam a todo custo justificar o dinheiro do contribuinte ser criminosamente jogado fora, com armações que fedem a alguns quilômetros de distância.
Fazem isso com um sorriso nos lábios,calmamente, tentam a todo custo tapar o sol com uma peneira furada, querendo esconder ou defender o indefensável, como se a população fosse trouxa em não agradecer as migalhas investidas em melhorias na cidade, como se nada disso fosse obrigação deles.
A Lei de Uso e Ocupação do Solo – LUOS, que com muita luta da sociedade, estudos audiências públicas, algumas até com discussões mais acirradas com direito a quebra- pau entre participantes, mas aprovada a toque de caixa, parecendo uma colcha de retalhos com emendas, num total de 85 pra atender interesse de grupos diversos.
A coisa parece um monstro, um verdadeiro acinte da forma mais vergonhosa como estão querendo fazer, apenas para atender representantes de invasores, grileiros e assemelhados, que querem a todo custo manter o crescimento desordenado.
Desde 2007 com a criação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial - PDOT, o que se vê é um aumento exacerbado de invasões e grilagens nas terras do DF, muitas vezes com a complacente anuência de governos e órgãos fiscalizadores, que pouco ou nada fazem para coibir tal absurdo aqui na capital do país.
O crescimento desordenado não respeita as diversas peculiaridades de cada região, onde ainda impera o lema do invadiu é seu, coisa que a sociedade tem que banir do seu meio, caso não queiram prejudicar seriamente o futuro do DF.
A nossa Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF vendo a proximidade das eleições, aproveitando a deixa, quer que a boiada passe sem muitas dificuldades, aproveitando a situação que temos com essa maldita pandemia, já estão a postos para terminar de lascar o DF
Lá no Porcão,eu e meu amigo Caixa Preta estávamos colocando o papo em dia,percebi que o cabra estava meio triste,fiquei curioso mas aguardei ele se abrir e começar a contar o que o estava preocupando.
Começou então dizendo que estava preocupado com o que vem acontecendo no Guará,onde alguns pontos que fazem parte da nossa história,estão fechando os nossos mais emblemáticos,como é o caso do tradicional ponto de encontro,o Mané das Codornas.
Vai ficar uma lacuna para muitos que frequentavam,principalmente para o pessoal que gostava de um atendimento nota dez,onde assuntos diversos eram sempre discutidos acompanhados da boa cerveja,bem gelada acompanhada dos tira gostos apetitosos,que só de lembrar já ficamos com a boca cheia d’água.
Fico imaginando no dia que fecharem o Porcão,o nível de suicídios no Guará vai aumentar assustadoramente,não sei se o velho Caixa vai resistir,pois apesar da Al-Qaeda ter feito a sobremesa do último jantar no Titanic acho que a véia já marcou encontro com algumas personalidades que afundaram junto com o navio, para um jantar de confraternização.
Ameaçava chover,minhas pernas me levaram até o Porcão,onde o Caixa Preta já me esperava sentado na nossa mesa favorita.
O velho Caixa era a indignação em pessoa,pra completar o Galak soltou uma piadinha cretina,dirigida a nós, que na bucha recebeu uma resposta.
Esperei as coisas se acalmarem,depois de muito xingamento,gritaria,coisas que não consegui entender muito bem,mas as mães foram devidamente citadas.
Mais calmo, o velho Caixa, me explicou que o Guará agora passa de cidade-satélite para a categoria de zona generalizada, graças à incapacidade administrativa do governo com a coisa pública, deixando que as administrações interpretem, de acordo com o entendimento de cada uma, a aplicação de leis sobre o uso dos espaços públicos, transformando de vez o Guará em um inferno aqui na terra para o comércio regular,moradores e contribuintes em geral.
Parece que esse descaso agora vai ser geral, vamos criar agora a zona de livre comércio nas calçadas e áreas públicas do Guará, ou seja, uma zona, mas agora legalizada, onde mais uma vez quem pagará o pato é o contribuinte e comerciantes legalmente estabelecidos, que pagam impostos caros e geram empregos.
O Caixa Preta não deixa nada passar batido,o cabra é terrível,ultimamente tenho notado que o cabra está afiado,outro dia ele me falou que sempre ouviu falar que o diabo veste Prada.
Segundo ele o pessoal está esquecendo de alguns emissários do capeta,vestem Marisa,C&A,Riachuelo e alguns até Feira dos Goianos,então na verdade não existe uma grife pra essa turma,todas eles vestem.
Basta olhar em volta,a maldita pandemia já matou mais de 650 mil,com previsão de aumentar nos próximos dias,sem contar com os 14 milhões de desempregados,a inflação corroendo os salários,a fome numa velocidade vertiginosa já atinge uma grande parcela da população,tudo isso é muito preocupante.
O Dia Internacional da Mulher é uma coisa muito interessante, muitos fazem versos e prosas para homenagear as mulheres, sejam mães, avós, irmãs, namoradas enfim todas nesse universo que com certeza merecem as maiores homenagens,não apenas num dia marcado em calendário,mas todos os dias.
Como gosto sempre de andar na contramão dessas manifestações, pois muitas vezes soam como falsas e as vezes até sem nexo, não vejo muito sentido essa coisa toda, não estou dizendo que não mereçam, merecem e muito,talvez digam que estou querendo polemizar.
Quero dizer apenas que me sinto privilegiado, pois tenho três mulheres e pelo valor delas, eu é que me sinto homenageado todos os dias.
A enxurrada de mensagens nas redes sociais é uma coisa absurda,acredito que para realmente valer a pena tais homenagens,precisamos lembrar das lutas femininas desde a criação,onde ficou cravado que na nossa expulsão do Paraíso,a culpa foi da mulher.
Com toda a nossa evolução,continuamos ao longo dos séculos massacrando,negando direitos,como fossem elas criaturas de segunda classe,onde até direito ao voto lhes eram negado.
Hoje ainda fico pasmo em ver que ainda parecemos uma tribo,onde a palavra final seja do chefe,sem reconhecer o verdadeiro valor das mulheres.
Aqui estamos depois do carnaval que não aconteceu,mas não faltou uma enxurrada de notícias sobre a guerra na Ucrânia,o povo adora uma desgraça,então muita gente não sentiu a falta de desfiles e bailes carnavalescos.
Por aqui tudo continua como antes,devagar quase parando,mas as conversas nas redes sociais continuam no mesmo diapasão,vazios e sem conteúdo,nada ou muito pouco se aproveita.
Diante de tudo isso estou tentando relaxar para voltar com força total,pois a vida não se resume a tomar cerveja ou jogar dominó com os amigos,ouvindo as abobrinhas de sempre,agora é o hora de encarar as coisas sérias da nossa cidade.
Então depois de uma ligeira zapeada voltei ao computador para trabalhar,pois agora vem a semana santa,todo mundo tentando enganar os outros e a si mesmo,como se jejuar,não beber ou se privar de algo que gostamos, nos fizesse ganhar um passaporte para o céu.
Tive que ligar para o meu amigo Caixa Preta,quem sabe o cabra não tinha alguma novidade pra me contar,resolvemos nos encontrar lá no Porcão como sempre.
O velho Caixa é um gozador nato,foi logo contando que está no clima da semana santa a muito tempo,pois com o preço proibitivo da carne a coisa tá prá lá de russa ou ucraniana como queiram.
Tudo parece meio devagar, estou esperando o Caixa Preta me ligar trazendo as últimas do Guará, confesso que estou ansioso pra saber o que o cabra tem pra contar.
Enquanto aguardo, fico pensando no puxa saco que citei em um dos meus artigos, apareceu com outro show de babação, mostrando um pombo que segundo ele foi encontrado enrolado com uma linha de alguma pipa e precisava urgente de uma intervenção dos veterinários do zoológico para salvar aquela pobre criatura.
Puxar saco devia figurar como crime hediondo, pois não adianta tentar salvar o chefe, perdendo talvez um dia de folga para balançar bandeirinhas pela cidade.
Talvez seja um crime que não compensa, pois não há perdão para tanta vassalagem, o próprio chefe muitas vezes constrangido acaba sendo seu algoz.
Isso porque a bajulação desmedida se torna um fardo para o bajulado, que não aguenta e na primeira oportunidade se livra dele, pois é constrangedor, mas o puxa-saco não tem noção do seu ridículo comportamento.
Saindo um pouco da frente do computador, resolvi encontrar o meu amigo Caixa Preta fui em direção ao Porcão onde a gororoba da Al-Qaeda e os coices do carinhoso Galak nos esperavam.
Estávamos precisando colocar os assuntos que nos preocupam em dia, mesmo que para isso tenhamos que enfrentar esse desafio, comer sem reclamar dos ataques a nossa flora intestinal, mas como bons guerrilheiros da resistência, enfrentamos na boa.
Segundo o meu amigo Caixa Preta, o DF hoje parece muito com um elefante com diarreia, obra pra tudo quanto é lado, nada que realmente acrescente algo para a população, como é o caso da QI-23,apenas pra encher os bolsos dos amigos, uma farra linda de se ver.
É de se estranhar a passividade com que essas enrolações são aceitas pela nossa população, assusta ver a pouca disposição em discutir assuntos sérios que afetam a nossa qualidade de vida e de todo o DF, mesmo que se considerem politizados e esclarecidos, mas quando o assunto envolve alguma polêmica, todo mundo é muito ocupado para participar.