MUDANÇAS

Lá no Porcão encontrei o meu amigo Caixa Preta, enquanto tomávamos aquela cerveja gelada, senti que o velho Caixa parecia bem à vontade e tranquilo, mesmo com os esbarrões propositais do Galak toda vez que passava perto da cadeira dele.
Gostei da atitude dele, sem confusão mandou o paquiderme se lascar e continuamos o nosso papo.
O cabra falou que estava fazendo exames de saúde, aqueles famosos exames periódicos que depois de certa idade temos que encarar anualmente, parece até pagamento de imposto.
Cheio de preocupações, resolveu encarar o cardiologista que era o médico da vez, depois de uma série de exames.
Assim que chegou em casa após a consulta, com aquele ar de quem tinha sido condenado à morte sem direito a apelação, a mulher dele preocupada quis logo saber como foi a tal consulta.
- Como é que foi por lá ? Perguntou. 

VOLTANDO NO VELHO ESTILO

Encontrei com o velho Caixa e fui logo querendo saber das novidades, para isso nos dirigimos ao nosso escritório, o Porcão, para mais uma reunião de emergência e tomar aquela gelada que ninguém é de ferro.
Além da notícia da exoneração do secretário da Seduh, que nos deu a certeza que as aberrações cometidas lá na QI-23, jamais terão uma solução boa para o Guará.
Junto a essa, a grande notícia da semana era o retorno do Tatuzinho, esse é o carinhoso apelido dado pelo Caixa Preta ao nosso governador, pois gosta muito de esburacar, basta dar uma olhada por aí  para se deparar com as crateras abertas em todo o DF.
Longe do poder, depois de mais de 60 dias de afastamento, voltou para continuar como antes, sem fazer nada, apenas falando abobrinhas, reinaugurando praças, onde os meio - fios foram pintados, praças varridas e as grandes promessas de continuar esburacando o DF literalmente, fazendo eventos acompanhados pelos fiéis puxas sacos, a grande maioria comissionados e afins, pra assinar ordens de serviço.

MORDIDAS

Lá no Porcão sentado sem ter o que fazer, tomando aquela gelada, que mais parecia canela de pedreiro de tão branca por causa do gelo, esperando tranquilamente a chegada do Caixa Preta, que estava demorando. 
Tive que aturar o mau humor do Galak, aquela doce figura mais grossa que casca de Jacarandá, de repente o velho Caixa chega.
Me preparo para ouvir algum caso maluco que ele tem pra contar. Parecia alegre, tudo indicava que nada de novo e ruim estava acontecendo no nosso querido Guará. Pedi então que ele me contasse algum caso para colocar no artigo da semana.
Depois de alguns goles, alguns palavrões trocados com o Galak ele começou:” Um vizinho dele meio maluco, gostava muito de cachorro, sempre que via um abandonado no meio da rua adotava na hora e levava pra casa. A mulher do cabra já não aguentava aquela cachorrada dentro de casa, apesar de não terem filhos. A coisa estava ficando insuportável.

Um dos cachorros estava meio estranho e, quando menos ele esperava, deu-lhe uma mordida na batata da perna. Demorando a cicatrizar, resolveu ir ao médico que pediu para que trouxesse o cão.
Depois de examinar o cachorro, constatou que o mesmo estava raivoso, mas talvez já fosse tarde para ministrar o soro. O médico resolve prepará-lo para o pior.
O cabra pega uma folha de papel e começa a escrever, o doutor estranha e diz: - Calma, talvez não seja preciso escrever o testamento agora.
- Que testamento? Estou fazendo uma lista das pessoas que pretendo morder!!!”
O cabra é bruto! Quase lati!   

CRUEL REALIDADE

Sem ter muito o que fazer, no Domingo resolvi assistir a festa de premiação do Oscar, fiquei algumas horas em frente a TV, ouvindo as abobrinhas dos comentaristas do evento, mas uma coisa eu pude constatar Hollywood não é mais a mesma.
Vou explicar, com a clara decadência de alguns astros, o cinema americano fez uma migração até interessante, como resultado o cinema indiano começou a despontar, tendo inclusive abocanhado alguns Oscars, com isso fica bem claro que a magia do cinema não é propriedade exclusiva dos americanos.
O mundo está globalizado, só aqui no Guará as práticas continuam as mesmas, logo voltaremos a era da pedra lascada, pois lascados a população já está, com tendência a piorar, se continuar endeusando essa turma do me engana que eu gosto.
O Guará segundo ele entrou numa rota de decadência sinistra, todos os dias damos de cara com as aberrações que acontecem por aqui ,tá difícil aguentar tanta falação e pouca ação, mas segundo os puxas sacos de plantão o Guará devagarzinho vira uma zona saudável.
Dubai, digo Guará, parece até um mundo de fantasia que foi criado no imaginário de alguma mente doentia onde as mazelas do nosso dia a dia passam longe ou não existem.

LISOS E FURIOSOS

Final de semana resolvemos dar uma circulada na Feira do Guará, para observar a movimentação, pensei até que ele ia pagar uma gelada mas daqueles bolsos não sairiam nem um centavo, como era hora do almoço, eu estava meio faminto, resolvi convidar o amigo quebrado para almoçar.
O Caixa me falou que na região devido a crise tem gente matando tubarão a soco, o que mais doía era a solidão das pessoas, a maioria sentindo falta de um abraço amigo, um bom bate papo tomando uma bem gelada, ele falava que a coisa está tão feia que ele jura ter visto gente apertando o botão do porteiro eletrônico só pra bater um papo com alguém.
Papo vai, papo vem, senti que o velho amigo queria apenas curtir o momento sem ter que esquentar a cabeça com nada, foi quando ele trouxe a tona aquela pesquisa que dizem ter feito sobre o Guará e soltou essa pérola: Tem muita gente se agarrando em poste para não cair na escala social , sequestrando elevador para subir na vida , a coisa está pra lá de feia e a tendência é piorar.

CACHAÇA NÃO É ÁGUA

Chega de festas, depois de tanta esbórnia ainda esbarramos em gente com ressaca ou voltando de alguma praia do nordeste, a ordem  agora é voltar ao trabalho já se preparando para a Semana Santa que ninguém é de ferro.
Vamos começar fingindo que somos bonzinhos, tementes e se pecamos foi culpa da bebida e das más companhias, queremos perdão ilimitado. 
Passei pela praça  me deparei com um grupo mamado, muito animado, pensei até que era algum grupo baiano que não tinha se conformado com o final do carnaval, nada disso era a Escola de Samba Unidos do Alambique e Derivados que não tinha conseguido desfilar pois não conseguiram sair da praça devido ao consumo moderado da marvada e ainda ensaiavam ao lado de um quiosque, embaixo da jaqueira, o tema não podia ser outro: Cachaça Não é Água.
Na mesinha ao lado a agitação era em torno de um litro de Domus com Coca-Cola, o que chamam de carinhosamente de passaporte para o inferno, escuto os papos mais variados, gravo o que posso, depois tento passar para o papel.

DESCONSTRUÇÃO

O festival de mentiras e delírios tomou conta da cidade, nos diversos grupos de What’sApp o que se vê é um verdadeiro festival de babação, sem nada que se aproveite.
A cidade hoje passa por um festival de desconstrução e descaso, sem precedentes, leis urbanísticas não são respeitadas minimamente, tudo é muito estranho e nebuloso.
Mesmo com todos os questionamentos que são feitos por parte da população a coisa não fica clara.
Com isso o contribuinte fica com cara de idiota ao ouvir tantas explicações sem nexo, mentiras em dose cavalar para encobrir algum malfeito, tem muito caroço nesse angu.
Nossa cidade carece cada vez mais de obras de infraestrutura e o que se vê é um festival de má utilização de dinheiro público, sem que nada venha solucionar ou minorar os problemas por que passa o Guará. Cada dia sente mais o crescimento desordenado imposto por visões distorcidas e alheias as reais necessidade de nossa cidade.
A população  diante desse festival de nonsense fica boquiaberta, esperando que suas reivindicações sejam atendidas, não se fala aqui em pintura de meio - fio, tapar buraco em asfalto, poda de árvores ou algum evento para medir pressão.

CINZAS

Estou aqui frente ao computador, tentando a todo custo escrever para os meus preciosos leitores, que segundo meus cálculos já passam de três, um eu sei que sou eu e os outros dois eu ainda não descobri, mas com toda certeza lê o que escrevo.
Não é fácil a tarefa de agradar a um público tão exigente, abordo os mais diferentes assuntos, mas capricho o máximo, afinal não sou um gênio da literatura ou jornalismo.
Agora mesmo tentando escrever o celular toca, meu amigo Caixa Preta querendo me contar as novidades, mas tem que ser lá no famigerado Porcão.
Lá nos encontramos, começamos a conversar sobre as coisas que estão acontecendo no Guará, assunto é coisa que não faltava.
Quarta-Feira de Cinzas, depois da folia frente a TV tomando todas, eu e o Caixa Preta resolvemos desfilar no calçadão enquanto íamos observando o Guará, parece uma cidade abandonada, muito buraco, sujeira, pequenas invasões de áreas públicas por toda a cidade, vê-se a volta com força total do Meu Quiosque, Minha Vida, coisas que passaram a fazer parte do cotidiano da cidade.

A CASA REDONDA

Lá no Porcão, sentindo aquela catinga de gordura queimada, olhando para o chão, eu estava tentando descobrir a verdadeira cor do chão, vem aquela agradável sensação que com toda certeza vou vomitar, 
No meio daquele barulho, mudo a direção da minha atenção, noto que alguns clientes cantam uma música, parece uma mistura de reagge, com samba e um xaxado que me pareceu familiar, mas cantavam em russo, língua que não estou muito familiarizado, a cerveja já começava a fazer efeito.
O Galak passa por mim, chuta a cadeira de propósito, foi a gota d'água! Me levantei de uma vez e fui chorar no banheiro.
Quando voltei o Caixa Preta já estava com outra gelada na mesa, senti que o chão saía debaixo dos meus pés. Calmo, ele xingava com doces palavrões o Galak. Pensei,é hoje!

O ANO QUE NEM COMEÇOU

Estamos meio devagar, quase parando, depois do carnaval temos que ir meio devagar, até a coisa engrenar, mas vamos em frente.
Encontrei com o Caixa Preta para fazer um balanço da atual conjuntura, palavra bonita que escutei e me apropriei, tudo parece uma grande reprise da sessão da tarde.
O velho Caixa furioso dizia ter a impressão que só de sacanagem estavam repetindo tudo, enrolação e promessas.
Muitas promessas, vamos aguardar e torcer para não retroceder, pois tempo demais já foi perdido.
O Caixa Preta me mandou observar como aquela turma que gosta de levar vantagem está aproveitando bem essa inércia dos órgãos responsáveis aproveitando para botar os mal feitos em dia.
Segundo o velho Caixa basta ver a quantidade de quiosques que está aproveitando a onda e se expandindo sem qualquer constrangimento, pois a cara de pau dessa turma não tem Óleo de Peroba que dê jeito.
Como exemplo citou um caso exemplar, no comércio da QE-15, onde um sem noção resolveu excluir três vagas de estacionamento para implantar um depósito de lixo, com direito até cobertura, uma verdadeira ode aos descalabros que tomaram conta da cidade.

FÉRIAS - NEVE NA BAHIA

O Caixa estava pra lá de animado, resolvemos dar um pulo lá no Porcão o quiosque mais sujo e amado da cidade, onde podemos de vez em quando mandar pendurar e ir pagando quando lembrar ,ou quando o Galak com aquela educação nata, gritar perguntando quando vamos criar vergonha na cara e pagar o que devemos, sempre acompanhado de outras frases de incentivo: Bando de cachaceiros, desocupados, caloteiros , e outros adjetivos que não devemos mencionar, de tão emocionado choro com vontade de matá-lo.
Procuro me acalmar, ameaço pagar a conta, mas quando ele apresenta a conta me lembro que estou duro, ainda não paguei a conta de luz que está sempre maior do que imaginamos.
Me preparo para ouvir um dos contos do velho Caixa, escuto, vou anotando para não esquecer.
O Guerrilheiro do Cerrado me contou que uma de suas conhecidas viajou sozinha para a Bahia, era verão e a mulher queria descansar. Deixou o maridão na cachaça aqui no Guará, foi curtir o sol de Salvador pra relaxar.
Conheceu por lá um Afro Descendente que parecia uma geladeira, um cabra da cor de asfalto novo que trabalhava num quiosque na beira mar, depois de alguns olhares, gamou de cara, alguns amassos depois ela resolveu perguntar o nome do cabra, ele ficou com vergonha de dizer, alegando que ela talvez fosse rir, tirar um sarro.

GUARÁ,VULGO DUBAI

Quando penso no fim do mundo sempre vejo um sinal que a data fatídica não está muito longe, aqui em Dubai, desculpem, mas Dubai foi o carinhoso apelido dado ao Guará por meu espirituoso amigo Caixa Preta, os sinais surgem em cada esquina.
Estávamos dando o nosso passeio matinal pelo famigerado Calçadão da Vergonha, aproveitando para nos atualizar sobre o Guará, tendo muito cuidado pra não cair dentro dos buracos ou ser atropelado por um ciclista sem noção, pois a ciclovia não faz parte de toda a orla.
Até agora de nada adiantou ter que repetir todos aqueles pedidos feitos pela população, para que seja enfim terminado e solucionando esse problema que já tem causado muitas discussões acaloradas entre usuários do tal calçadão.
Calçadão da Vergonha, não é outro não, é o mesmo famigerado que a cada topada ou passo em falso, temos que amaldiçoar até a quinta geração desses aprendizes de feiticeiros que por aqui passaram deixando esse abacaxi, ainda não descascado e nem digerido pelos moradores.