segunda-feira, 9 de agosto de 2021

SAUDADES








DIA DOS PAIS - O PASSADO DO PRESENTE

- Pai, o que você quer no Dia dos Pais?, perguntava com carinho.

Na maioria das vezes, perguntava por perguntar. A grana era curta. Muito

curta, mesmo. E a gente ainda gastava com futilidades do dia a dia. E o

presente, quase sempre, era um cinto novo, um par de meias... Quando

melhorava um pouco, dava para ser um perfume - se viesse com um

desodorante junto, era o top do top -, uma caixa de sabonetes... Hoje,

talvez "evoluísse" para um aparelho celular ou coisa assim. Mas o

importante era a lembrança.

A resposta era sempre doída:

- Não quero nada, filho. A única coisa que quero é que vocês sejam felizes.

- Ah, pai...!

Esse "Ah, pai...!" deveria ser completado com um gesto de carinho ou com

a frase "... vocês sabem como somos gratos a vocês, como amamos vocês!

De todo o coração!", mas ficava apenas, e sempre, no "Ah, pai...!".

Pior era quando a resposta do pai vinha acompanhada do inevitável sermão:

- Quero paz, tranquilidade, mas vocês só dão preocupação. Não sei o que

vocês veem nessas farras? Vocês acham que esses amigos vão lhes dar

futuro? Amigos assim não dão manga de camisa pra ninguém. Vocês têm todo

o futuro pela frente e, final de semana, ficam nessa rotina vazia de

botecos e andanças de madrugada. Correndo riscos desnecessários...




E seguia uma longa lista das bobagens recentes que fazíamos. E que

tínhamos consciência que fazíamos. E mais consciência ainda que eram

bobagens, mesmo. À época, nos parecia um sermão interminável e irritante.

- Tá bom, pai, vou perguntar pra mãe o que o senhor precisa, falava

resignado.

E a mãe desfiava a mesma ladainha.

Hoje, talvez um pouco tarde, entendo-os perfeitamente, mas não tenho

coragem de repetir a frase fatídica.

Ah, mas como gostaria de repeti-la. Com todo o sermão, carinho e amor de

pai.

Autor : Fernando Gurgel

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