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Sem muita inspiração resolvi dar um rolê pelo Guará, aliás é uma das coisas que mais gosto de fazer, pois assim fico sabendo do que acontece no nosso quadrado, disso não abro mão.
Cheguei no Porcão, o Caixa Preta ainda não apareceu, sentei e pedi minha cerveja, melhor era observar em volta, o que de cara já não era tão agradável assim.
O Galak com aquele avental imundo que volta e meia passava na cara para enxugar o suor, só não conseguia se livrar da catinga que exalava daquele corpo balofo, um bando de moscas sempre a lhe acompanhar sem desanimar, parecia que o cabra tinha tomado banho nas chuvas do ano passado, olha que já faz um tempo.
Não estava gostando daquele vira-lata do quiosque que se lambia e de vez em quando dava uma rosnada na minha direção para demonstrar o amor que sentia pelas minhas canelas, o suor escorria, aquele telhado de zinco era de lascar, o velho Caixa estava demorando, pedi outra gelada.
De repente pintou na área o cabra mais maluco do pedaço, o velho Caixa, que pelo jeito vinha cheio de novidades para contar, pois o Guará de longe é a cidade que mais casos aparecem para contar ou comentar, sempre aparece coisa nova.
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O mês de Agosto se arrasta lentamente, parece que não, mas estamos quase chegando ao final do ano, muita gente se preparando para fazer aquelas promessas mentirosas de todos os anos.
Todo mundo cheio de bondade, beijando inimigos, desejando o melhor para todo mundo mesmo que seja da boca pra fora, é tanta doçura que chega a juntar formigas em volta do mentiroso.
Sentado lá na mesa do Porcão conversando sobre o que acontece aqui no Guará, vendo as baratas passarem por cima da mesa, parece que tinha alguma festa por ali,as moscas faziam um recital de zumbidos e voos rasantes sobre o meu prato e copo , isso me mantinha de olhos abertos para não deixar nenhuma mergulhar no meu copo.
Sem querer olho na direção do Parque do Guará, meus olhos deixam escapar algumas lágrimas por ver aquela beleza toda sendo degradada pela cobiça de alguns que teimam em querer o fim do nosso pulmão verde.
As cercas estão sendo roubadas, entradas estão sendo sorrateiramente abertas, abrindo de vez a invasão de ocupações irregulares, mas não se vê nenhuma ação para conter essa degradação, o nosso Parque agoniza.
Estava aqui pensando na nova idiota mania que apareceu nas redes, o tal de Morango do Amor, o Caixa Preta parece que andou experimentando, vou procurar saber detalhes.
Parece que foi uma coisa bolada por algum dentista, pois o que existe de cristão com os dentes prejudicados não está no gibi, a coisa virou uma febre entre os frequentadores das redes sociais, só falam nisso.
Para que tenhamos uma ideia da idiotice em questão, o preço do morango subiu assustadoramente, já há escassez da fruta em alguns mercados e frutarias.
O velho Caixa chega todo animado, depois de xingar até a décima geração de plantadores de morango pois quase tinha perdido um dente ao experimentar o tal doce.
O velho Caixa estava irritado deveras, foi logo desembuchando o que sentia, quando achamos que já vimos tudo em matéria de frescura, eis que aparece uma modinha pra lembrar que o mundo está mais perdido do que imaginamos.
Agora surgiu o Morango Amor, uma verdadeira ode a boiolice reinante, a coisa é mais grave, escrevendo já me benzi umas dez vezes e olha que não sou muito de rezar, mas diante dos fatos, me apavorei.
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Encontrei com meu amigo Caixa Preta, ele estava muito preocupado, me falou que agora só os bonitos estão morrendo e citou Alain Delon, quase morro de rir quando olhei pro cabra.
Mas lá no Porcão enquanto tomávamos nossa cerveja, ouvindo aquela gritaria saudável parecendo o Maracanã em dias de clássico, comecei a relembrar de algo que ouvi.
Mas o meu pensamento estava focado no que tinha ouvido em uma reunião dessas muitas que acontecem no Guará pra resolver ou tentar discutir uma solução para os graves problemas da cidade.
Tem gente querendo fazer a todo custo acreditar que tudo feito por essas bandas, só acontecem por causa do amor e dedicação, como querem nos fazer acreditar algumas vaquinhas de presépio.
Tudo fruto do amor, fica-se até emocionado, com o show de puxa saquismo onde com a voz embargada, mentem como se todos fossem otários e idiotas pra acreditar.
A população tem que ficar atenta a esses santos de plantão, que parece ter virado moda por essas bandas, onde tudo é feito na base do amor, sem reclamar das aberrações que campeiam no Guará, se reclamar corre-se o risco de ser excomungado.